20.5.10

ANDRESSA FRANCESCHETT e MANUELA OLIVEIRA

A partir dos textos de Laraia e Lévi-Strauss lidos, numa possível análise sobre o filme “Paradise now” pode-se ressaltar e estabelecer paralelos entre diversos pontos.

Logo no começo do filme vemos fortes traços de etnocentrismo nos personagens de Said e Khaled, que foram “designados” a participarem de um atentado como homens-bomba. Os dois aceitam o encargo de bom grado, acreditando que assim estariam mantendo a luta do povo palestino viva, em oposição à dominação judaica. A vida dos revolucionários palestinos, como mostrada no filme, é voltada para o ódio a Israel, coisa que desde a infância são impelidos a sentir, focando o mundo com o olhar que aprenderam, com os valores que adquiriram e com um sistema de referências limitado, repudiando toda e qualquer diferença cultural entre eles. Este tipo de ETNOCENTRSIMO, assunto amplamente discutido nos textos de Lévi-Strauss, é o carro-chefe dos conflitos no mundo árabe, onde os próprios costumes, valores e crenças de cada cultura são tidos como “verdades universais”.

Neste aspecto, a personagem Suha difere dos demais personagens da trama. Filha de um “herói” palestino, teve períodos de estudos e de vivência na França, Marrocos além da própria Palestina, o que foi decisivo para entrar em contato com variadas culturas e pontos de vista, ampliando sua visão do conflito que é cenário do filme. É comparando as figuras de Said e Suha, que podemos afirmar que a partir do contato e da compreensão de outras culturas é possível questionar a sua própria. Isso porque Said foi criado durante toda a vida sob os costumes e tradições da cultura palestina, isolado de outras formas de aprendizado, tudo o que sabe é aquilo que o seu povo lhe ensinou, tendo a imobilidade de conviver com outras culturas ou lugares. A partir do exemplo da personagem Suha, podemos questionar os conceitos de determinismos geográfico e principalmente biológico, pois sua personalidade foi formada não através de características inatas à sua origem biológica (palestina), e sim de acordo com experiências vividas e seus modos de assimilação.

Convictos de seu destino e missão Said e Khaled passam por toda uma preparação para penetrarem em território israelense e atuarem como homens-bomba, devido à grande diferença, inclusive física, entre os integrantes dos dois povos. É notável que tais diferenças sejam gritantes por haver “um desejo de se oporem, de se distinguirem, de serem eles mesmos”, alcançando assim uma identidade cultural própria. ”Paradise Now” mostra ainda uma Israel moderna e ocidentalizada, enquanto os povos palestinos aparentam ter parado em algum ponto do século XX (pelo menos ao serem comparados sob uma mesma visão ocidental) apesar de se situarem no mesmo tipo de ambiente físico. Lévi-Strauss, no entanto, cita “o progresso não é necessário, nem contínuo; procede por saltos, pulos, ou, como diriam os biólogos, por mutações. Esses saltos e pulos não consistem em ir sempre além na mesma direção”, o que nos leva a refletir que o progresso pra povos de outras culturas é relativo e não “deve” seguir o mesmo caminho nem conseguir os mesmos feitos que uma determinada cultura hegemônica instituiu como conceito.

O contato entre culturas sempre deixa sua marca, seja ela pequena ou grande. Khaled, que inicialmente acreditava que era sua missão divina ser um homem-bomba, ao entrar em contato direto com Suha, que o questionou sobre a própria cultura e a verdade em que acreditava, voltou atrás em sua decisão desistindo de tirar sua vida e a de pessoas inocentes em um atentado à população israelense.

Said seguiu em frente. Pelos seus olhos, aquele era o único meio de ajudar sua família e pedir perdão pelos erros cometidos por seu pai. Para ele Israel era, ao mesmo tempo, opressor e vítima, não deixando aos palestinos uma escolha, além de se tornarem também vítimas e assassinos. Como homem-bomba, ele buscou o sentido de sua existência e lutou para tentar mudar a realidade de seu povo. Na sua cultura, ele fez o que era “certo”.