20.5.10

André Boechat e Josué de Oliveira

ANÁLISE CRÍTICA: “PARADISE NOW”

“O Filme é uma visão artística dessa problemática política: os políticos querem ver como se fosse preto e branco; bom ou mau, e a arte quer ver isso como algo humano”, relata o diretor Abu-Assad.[1], e a partir desse relato é possível definir o filme como a tentativa de mostrar ao público uma visão diferente dos homens que estão dispostos a morrer por uma causa, que não a comum (e etnocêntrica) que geralmente temos. Através de um jogo de diálogos bem colocados e retratando situações incomuns para grande parte dos ocidentais, Abu-Assad humaniza os protagonistas e os aproxima do espectador, colocando uma enorme pulga atrás da orelha daqueles que os enxergam simplesmente como os vilões da história.
Na perspectiva palestina, Israel é o vilão – e, por conseguinte, aquele que deve ser combatido. Nesse combate, armas humanas podem ser utilizadas. A idéia do suicídio não é vista como uma maldição, como, por exemplo, em culturas predominantemente cristãs. Dá-se justamente o contrário: aquele que se explode na luta pela liberdade merece honra, tanto nessa vida quanto na próxima.

O filme choca ainda mostrando a disparidade econômica e social que é enfrentada pelas personagens durante a projeção: fronteiras rigorosamente controladas, separando duas culturas diferentes de maneira forçada para garantir a “segurança” – o que, ironicamente, é uma das principais razões da revolta palestina. Enquanto Nablus (cidade dos protagonistas) é pobre, superpopulosa e carente em diversos aspectos, Tel Aviv mostra-se como uma grande metrópole, tão próxima e tão distante. Para passarem-se por habitantes da outra cidade, eles tem que abandonar toda uma vestimenta (que em sua cultura, caracteriza-os como “nativos” ou “comuns”) e adotar uma outra, mais sofisticada e com uma aparência mais limpa.

O diretor faz uso de uma determinada personagem para levantar as discussões do filme: a jovem Suha, que fora educada fora do país e tem como pai um mártir da guerra árabe-israelense, podendo assim opinar sem receber severos castigos ou ser censurada por fazê-lo, sendo mostrada como uma questionadora não só do sistema vigente como da forma usada para combatê-lo. Ela também serve em certos momentos como contraponto aos próprios usos e costumes daquela região, como, por exemplo, o não uso do véu e a atitude não submissa diante dos homens. Por ser filha de um mártir, acaba lidando também com a questão da hierarquia, questionando a razão pela qual os escolhidos de Deus nunca serem os líderes da resistência.
A religiosidade também é questionada em certos momentos, como a própria missão que é dada aos personagens principais, visto que o próprio supervisor não transmite segurança ao dizer o que acontecerá depois do ocorrido, ao ser indagado, ele apenas responde com pouca confiança que dois anjos os levariam.

Conforme o filme progride, essas questões passam a ser abordadas com mais frequência e de maneira cada vez mais direta, forçando o espectador a pensar sobre elas antes de levantar uma conclusão sobre tudo aquilo que se passa. Estariam errados os “bárbaros” que se explodem por um ideal? Seriam eles vítimas de uma opressão ou opressores? Tantos são os fatores envolvidos, tanto culturais quanto sociais, não é possível chegar a uma resposta e uma solução de imediato, muito menos para aqueles que estão por fora do que ocorre na região. Afinal, nem tudo é apenas Preto e Branco ou Bom e Ruim.