O conflito entre muçulmanos e judeus é uma questão secular, agravada após a criação do Estado de Israel. A tensão entre os grupos é gerada por disputas econômica, religiosa e, sobretudo, cultural. A partir do filme é possível perceber alguns dos traços destas culturas, que são muito mais complexas do que qualquer cineasta possa retratar.
Durante o desenrolar da trama, são mostrados os dois lados da Palestina: aquele sob domínio judaico e o outro, sob domínio muçulmano. As diferenças entre ambos são explícitas, já que o primeiro é marcado pelo desenvolvimento tecnológico, infra-estrutura e planejamento urbano. E o segundo, em oposição, exibe casas desprovidas de saneamento, deficiência no sistema de transportes e uma aparente falta de perspectiva de futuro, pois vive-se praticamente como prisioneiros em seu próprio país.
Entre outras tantas particularidades do universo palestino, por exemplo, o filme põe em foco o homem-bomba. Essa figura muçulmana tem como objetivo matar seus inimigos, ainda que isso custe a sua própria vida. Equiparando-se assim aos soldados do mundo ocidental – guardadas as devidas proporções. No entanto, para o ocidente, tais soldados são considerados heróis por defenderem os ideais de sua nação, enquanto os homens-bomba são vistos como algo assustador, ameaçador.
De acordo com o pensamento do antropólogo, a diversidade tem sido encarada de maneira pejorativa. Já que toda forma de pensar e agir, praticada pelo outro, que não se adéqua aquelas que lhe são comuns, são tidas como inferiores. Pensamento que se aplica à forma como são encarados os indivíduos que, munidos de explosivos, lutam contra um sistema que, a todo o momento, insiste em subjugá-los. O ocidente esquece que antes de serem bombas eles são homens.
Outro ponto que deve ser comentado é a maneira pela qual a morte é encarada nas diferentes culturas. Seja para muçulmanos, judeus ou cristãos, acredita-se que esse mundo é apenas um local de passagem, já que após a morte existiria uma segunda vida que se estabeleceria no “Paraíso” – ou não. Tendo em vista essa afinidade entre as culturas, mais uma vez é possível fazer uma comparação entre a obra “Raça e Cultura” e o filme, pois o texto revela que nas sociedades coexistem dois tipos de força: uma que ressalta as diferenças e busca a manutenção do particular e outra que enfatiza as características comuns e leva a convergência.