24.7.09

Ser Diferente é Desconectar-se? Sobre as Culturas Juvenis

O texto “Ser Diferente é Desconectar-se? Sobre as Culturas Juvenis” de Néstor García Canclini trata dos jovens e suas questões na sociedade pós-moderna, compreendendo o mercado, presentismo, fragmentação e dilemas da globalização.

Abaixo, seguem alguns gráficos com dados de uma pesquisa do IBGE de 2006 em relação aos jovens do Brasil. (Gráficos retirados do livro: Jovens e Trabalho no Brasil – Desigualdades e Desafios para as Políticas Públicas, de junho de 2008).







Mercado e Consumo

Canclini propõe que as novas gerações se globalizem como trabalhadores e consumidores. Como trabalhadores, em um mercado mais liberal e mais exigente em qualificação técnica, flexível, instável e com menos direitos trabalhistas e de saúde e negociações coletivas, como sindicatos. Os jovens “devem buscar mais educação para no fim achar menos oportunidades”. Já no consumo, o cosmopolitismo não existe em prática – a evasão escolar cresce e os espetáculos de qualidade encarecem.

A exclusão dos jovens no mercado de trabalho e sua marginalização nos âmbitos massivos de consumo são maiores em países periféricos. E eles são mais subcontratados, empregados por tempos limitados e buscadores de oportunidades eventuais, do que trabalhadores seguros e satisfeitos.

Na América Latina na década de 1990 de cada 10 empregos, 7 eram no setor informal, o que leva a concluir que ser trabalhador torna-se sinônimo de vulnerabilidade. E esta informalidade trabalhista acaba gerando instabilidade no salário e privação de recursos de segurança social, saúde e integração...

O Sistema Econômico Latino-Americano (Sela) informou em julho de 2001 que cada habitante latino-americano deve 1500 dólares ao nascer. Ou seja, antes de propor-se aos jovens que se globalizem nos seus trabalhos e consumos, eles são globalizados como devedores.

Canclini também aborda a questão do liberalismo clássico, como sendo modernização para todos, enquanto o neoliberalismo atual, como sendo uma modernização seletiva: “passa da integração das sociedades para a submissão da população às elites empresariais, e destas aos bancos, investidores e credores transnacionais”.

Muito da condição de excluídos dos jovens se dá não somente por problemas de megaestruturas/ macrosociais, mas por condições familiares, na integração/desintegração dos laços sociais.

Na década de 1970 houve muitas migrações de exílio fugindo da repressão militar, com intuito de retorno ao país. Já nos últimos anos, a decadência econômica e social impulsionou migrações devido à perda de empregos, queda da qualidade de vida, dificuldades de sobreviver e desesperança de recuperação. Se 10 a 20% da população latino-americana se dispersou para países desenvolvidos e ainda metade gostaria de ir embora, Canclini lança a seguinte questão para reflexão: “O que resta destas nações?”


Presentismo

Canclini aborda também a questão do presentismo, característico da pós-modernidade. O jovem está ligado mais o presente, se distanciando, assim, do passado (de memórias, formador de identidade) e do futuro (perspectivas, utopias e expectativas, frustradas pela flexibilidade, dificuldades e incertezas que caracterizam a vida atualmente). Trata-se de consagrar o momento, o instante.

Citando Z. Bauman, “a beleza é uma qualidade do acontecimento, e não do objeto”. Trata-se, portanto, da consagração do momento, do instante, e não de algo duradouro ou perene. O presentismo aparece nos diálogos simultâneos da internet, nos videoclipes, na grandiosidade e acúmulo de sons e imagens, na rápida atualização e desatualização dos conhecimentos, objetos e relações.

A valorização do hiper-presente entre os jovens é uma característica oriunda de um contexto social que converge as atenções e importâncias para o instante: é o acúmulo de informações, que chegam a todo momento e são atualizadas com uma freqüência jamais vivenciada; o desenvolvimento dos meios de comunicação, principalmente a internet , favorecendo uma comunicação instantânea; o avanço tecnológico, que diminui o tempo que se gasta para as tarefas cotidianas, permitindo também um acúmulo destas; a globalização, que diminui as relações de tempo e espaço, além de relativizar a questão das identidades, que se tornam fragmentadas e diversas.

Segundo o educador Mario Sergio Cortella, trata-se da “Geração Miojo” Tudo acontece muito rápido para os jovens. Essa característica perpassa as áreas mais diversas: amor miojo, namoro miojo, estudo miojo. A duração é muito pouca, tudo fica rapidamente obsoleto ou desnecessário.

O mercado também vive este presentismo, a partir do momento que sua lógica baseia-se na curta duração dos produtos, que rapidamente ficam obsoletos ou desatualizados, exigindo constantes trocas. Entretanto, Canclini observa que não é verdadeiro o argumento de que omercado manipulador é que cria esse presentismo da pós-modernidade para otimizar seus lucros. Não é. Existem outras condições sociais fora dessa lógica que constroem tal realidade. Mas, evidentemente, é importante pensar na relação que existe entre a exaltação do instante na vida cotidiana, o consumo, e a dinâmica (instável) dos mercados de bens e mensagens.

Abaixo, segue dois exemplos de audiovisuais que para o grupo refletem essa ideia de fragmentação, descontinuidade e imediatismo: um trecho do programa Re(corte) Cultural da TV Brasil, idealizado justamente para o público jovem e o trailer do filme Timecode, que é um drama experimental que inova nas estética, onde são 4 enredos distintos que acontecem simultaneamente em 4 telas, dividas em quadrantes.


Programa RECORTE CULTURAL



Trailler do filme TIMECODE