20.5.10

Daniel Duarte - William Costa

Os dois protagonistas vivem uma metódica vida. Trabalham em uma oficina sem nenhuma perspectiva acerca do futuro. Uma cena importante mostra os rapazes admirando montanhas e construções locais fumando narguilé. Em meio ao ambiente que inspira uma certa tranquilidade, ambos são "convidados" a praticar um atentado terrorista. O objetivo seria a vingança por conta de um ataque sofrido, cujo algoz foi o exército israelense. Sob o axioma da defesa de um Estado Palestino, os jovens são induzidos a investirem suas vidas em um atentado suicida em território de colonos contra cidadãos israelenses. Dado esta tarefa, Said e Khaled foram impulsionados não só pela “causa palestina”, mas também pela perspectiva de virarem mártires e de serem glorificados pelas tradições sociais e religiosas as quais estavam imersos. Havia a promessa de que, depois de mortos, eles seriam resgatados por anjos que os levariam para o paraíso, simbolizando uma recompensa espiritual. Também não se pode ignorar o fato de haver recompensas terrenas para essa entrega à causa - no combate à opressão imposta pelo povo invasor (os colonos judeus e seu governo). As famílias dos mártires suicidas ganhavam o respeito da comunidade e a morte ganhava um sentido de luta pela resistência.

A trama desencadeia-se na relação entre os protagonistas para com a atividade designada. Surgem dúvidas e angústias que acabam permeando a mente deles. Neste ínterim o filme aborda questões relacionadas à morte, às crenças, às convicções religiosas e à família, sintetizando a dicotomia que abala os protagonistas: o que vale mais? Morrer por uma causa ou continuar vivendo sob uma realidade injusta e opressora? E como recusar um chamado à uma responsabilidade com a causa e com a guerra crônica?

Na parte final do filme somos indagados por uma pergunta: "Os fins justificam os meios?" Para os mais devotos a esta causa este é o axioma, porém nem todos pensam assim, e é através deste contexto que emerge a figura da Suha, a antítese representada por uma jovem e bela mulher. Suha, também de origem familiar palestina, fora criada na Europa e, por conseguinte, seus valores e virtudes diferiam dos compartilhados pelos protagonistas e seus mentores. Ela percebia a violência como algo retroativo para a causa palestina, vislumbrando a possibilidade de outras alternativas de convencimento à comunidade internacional sobre o regime de terror promovido por Israel. Em sua opinião a forma diplomática era a melhor forma de atingir o objetivo desejado, isto é, a criação de um Estado Palestino.
O filme apresenta cenas em que o silêncio ilustra o clima de melancolia acerca desta guerra e a consequente morte de inocentes.
Procurei fazer um resumo acerca dos fatos que sedimentaram este conflito. Não mencionarei a questão primária embutida nesta conflito -a diáspora. Procurei me concentrar no contexto dos séculos XX e XXI, razão pela qual não teria dados nem linhas suficientes para citar conflitos anteriores entre judeus e árabes.

Vejamos, em:
1917 - Declaração Balfour fora institucionalizada por Lord Balfour, em que concernia o direito a um território israelense na região denominada de “Terra Santa”. Fora proposto aos palestinos esta mesma oferta, a fim de que eles pudessem ajudar a Tríplice Entente na I Guerra Mundial.
1948 - Criação do Estado de Israel e a primeira guerra árabe-israelense: Israel fora criado devido aos interesses da enorme comunidade judaica,nem como por pressões exercidas por líderes do Partido Trabalhista, cujo artífice se concentra na figura de Bem Gurion. A ONU - órgão criado após a II Guerra Mundial para substituir a Liga das Nações - interviera neste território dividindo a área na seguinte proporção: 57 % desta ficaria sob domínio Israelense e 43 % son domínio palestino. Tanto ss árabes, quanto setores ultranacionalistas israelenses não concordaram com a partilha, dando subsídios à I Guerra do século XX entre judeus e palestinos. Israel foi o vencedor e conseguiu expandir seus territórios.
1956- Crise no Suez: Tentativa de nacionalização do canal pelo presidente egípcio Nasser conflagrando um conflito localizado - terminologia dos confrontos derivados da época da Guerra Fria. Israel ocupou a Península do Sinai, porém com a pressão das duas superpotências, EUA e URSS, Israel foi obrigado a devolver.
1967- Guerra dos seis dias: Vitória israelense,possibilitando a anexação de diversas áreas pertencentes aos árabes,dentre elas Gaza, Cisjordânia e Colinas de Golan.
1973- Guerra do Yom Kippur:Os árabes invadiram o território israelense no feriado santo - Dia do Perdão - e sofreram nova derrota. Após este conflito, tanto o Richard Nixon (presidente estadunidense), quanto Brejnev (secretário-geral do PC Soviético) tiveram de intervir. No contexto econômico, essa guerra contribuiu para uma grande crise e o consequente fortalecimento da economia neoliberal, rompendo com os paradigmas que norteavam o Welfare State americano.

Somente no início do anos 90 que as conversas puderam ser edificadas na tentativa de resolver o confronto sob a esfera diplomática. As negociações eram entre Yasser Arafat - líder da OLP (Organização para a liberdade da Palestina) - e Yitzhak Rabin representante de Israel. Rabin foi, então, assassinado por um ativista de ultra-direita, impossibilitando um avanço nas negociações. Até hoje, as relações entre Israel e estados árabes encontram-se turbulentas - razão do recrudescimento das forças israelenses sobre o território palestino sob o artífice de Benjamin Netanyahu.

Paradise Now e a Antropologia Estrutural de Levi-Strauss
Começarei este tópico citando a frase de Caetano Veloso, em sua música “Sampa”,objeto de estudo das primeiras aulas: "É que Narciso acha feio o que não é espelho". Vários exemplos no decorrer do texto correlacionam com frase contida na música. A que mais me chamou atenção foi a cena em que os protagonistas tiveram que se “plastificar” para poderem ser inseridos no território israelense. Eles tiveram que se descaracterizar para terem mais chance e sucesso na sua missão. Fizeram a barba, cortaram o cabelo e mudaram toda sua roupa para que não fossem considerados tão “estranhos” e potenciais terroristas. Isto correlaciona com o texto trabalhado em sala de aula do Antropólogo Claude Lévi-Strauss, pois, por dividirem espaços geográficos bem próximos e serem contemporâneos, a necessidade de diferenciação entre judeus e árabes é muito forte. Identificar-se como judeu significa também diferenciar-se dos "inimigos" árabes. Vestimentos, hábitos alimentares, dias santos e muitas outras peculiariedades emergem.

Outra cena que alvoroçou em nossas mentes foi a dos personagens travestidos de terno e gravata, sendo objeto de críticas e ironias por parte de seus concidadãos. Esses gracejos vinham acompanhados de frases “Vão a algum casamento?”;”Viraram colonos?”,denotando, pois, um tom etnocêntrico. A crença na superioridade de determinada cultura subjugando assim uma outra, tão condenado pelo autor em questão, cuja crença reside-se no relativismo cultural, sob o lema de que cada cultura tem sua própria idiossincrasia e, portanto, deve ser respeitada.

Para finalizar, gostaríamos de expor a contribuição, não só deste filme, como também dos textos trabalhados em sala de aula, para o desenvolvimento de nossa visão acerca das culturas díspares da nossa. Podemos perceber o quão importante buscar caminhos de se convívio social.