25.9.07

| era dos festivais

Os festivais da música representaram a concentração de todas as frentes políticas da canção brasileira em um só lugar, que inicialmente foi na Tv Excelsior paulista, mas logo foi transferida para a Tv Record, e posteriormente passaram para a Tv Rio e para a Rede Globo.
Foi na Tv Record onde os festivais tiveram seu período de grande audiência devido ao teatro Record ter autonomia total em relação aos mecanismos de se fazer Televisão. Possuia uma equipe técnica completa, incluindo cenaristas, guarda-roupas, iluminadores, sonorizadores, contra-regras etc.. herdara a grande orquestra da rádio, que antes mesmo da Televisão, funcionava no mesmo prédio. Além disso, entre os anos de 1959 e 1962 a Record contratou grandes nomes do showbusiness internacional. Com tais artifícios, ainda que tecnologicamente de acordo com a época, a Tv Record estava à frente das demais e tinha tudo para fazer prosperar seus programas, em especial os festivais. Do ponto de vista comercial, a Tv Record começou a prosperar enormemente quando conseguiu atrair verbas de publicidade, antes destinadas à imprensa escrita.
Na década de 60, a música popular brasileira revelou grandes compositores e intérpretes através de tais festivais de música. Estes festivais eram como uma resposta à política repressora de um governo ditador, através de linguagens metafóricas presentes nas letras das músicas. Os festivais contavam com a nata da MPB, que nesse período de intensa contestação política (engajamento) e sob o domínio do regime militar (repressão), era tida como porta voz dos estudantes. Além do que, serviram também para abrir espaço para novos cantores e compositores, o que revelou novos nomes dentro da MPB. Dentre esses nomes é possível destacar alguns que posteriormente ficaram bastante conhecidos, como Gilberto Gil, Geraldo Vandré, Caetano Veloso, Tom Zé e Chico Buarque.
Com a popularização dos festivais da Tv Record, o alcance do público alvo das gravadoras estava cada vez maior, visto que as gravadoras usavam os festivais como uma espécie de teste para os artistas, aquele que tivesse a maior torcida, maior repercussão entre o público, era escolhido pelas gravadoras para ser contratado. Dessa maneira, os cantores contavam com verdadeiras torcidas para que obtivessem sucesso com suas canções e, quem sabe, chegar a vencer o festival e fechar contrato com alguma gravadora. A televisão muito ganhou e muito ajudou os artistas naquele momento. Enquanto um novo meio de comunicação, conseguiu se consolidar e afirmar-se no mercado brasileiro, de maneira que os festivais eram exibidos pela televisão e havia muitas pessoas que não poderiam, por diversos fatores, estar presente no show. Já os músicos, através da televisão tiveram suas idéias e músicas divulgadas para um número muito maior de pessoas do que anteriormente era atingida em um show. Pode-se também afirmar que a televisão fez na década de 60, através dos festivais, o que o rádio fez nas décadas anteriores. Consolidou, acima de tudo, ritmos já existentes, como a Bossa Nova, Jovem Guarda e Tropicália e ainda fez com que milhares de pessoas pudessem conhecer novos estilos e músicas, ao assistir durante os festivais e programas, os artistas, podendo assim simpatizar com suas propostas, conhecer suas visões de mundo através do seu modo de vestir, falar e se expressar.




Festival da Música Brasileira

[1966]


No dia 29 de janeiro de 1966, durante a entrega de troféus Chico Vida, a Tv Record anunciou que promoveria o seu Festival da Música Popular Brasileira, com 20 milhões em prémios. Muitos acharam que aquele seria o primeiro, no entanto a Tv Excelsior já havia feito um em 1965. Poucos se lembravam que 6 anos antes houvera o primeiro, no Guarujá. Essa a razão de ser o segundo. E mais, seu título oficial não continha o "Nacional", de modo a diferenciar tal festival do evento de 65 da Tv Excelsior que se chamara I Festival Nacional da Música Popular Brasileira. Havia, no entanto, um ponto em comum que faria a diferença: seu produtor chamava-se Solano Ribeiro, o homem que sabia como niguém fazer os festivais acontecerem. Poucos dias depois de ter pedido demissão da Tv Excelsior, Solano procurou responsáveis na área de eventos da Tv Record para sondar se havia um interesse deles em realizar um festival. Apesar de não terem ficado muito entusiasmados com a idéia, até porque o último festival da Tv Excelsior não tinha sido um grande sucesso de audiência, eles toparam promover um novo festival.
Na rua Nestor Pestana, o II Festival da Tv Excelsior, cuja realização fora confirmada dois dias antes, a 27 de janeiro, não tinha a estrela que a emissora projetara em sua primeira edição. Contudo, o seu devastador desempenho nas contratações, o canal 9 deixara escapar justamente quem mais precisava, aquela que tinha detonado o processo de reversão na liderança da audiência, Elis Regina. Desde o momento em que os dois certames foram anunciados, ficou no ar a nítida sensação de que o da Tv Record iria superar o festival da Tv Excelsior, que muitos acreditavam ter diso a criadora dos festivais.
Em função dos musicais de televisão, São Paulo era o centro para o qual convergiam os maiores nomes da música popular brasileira. A turma de compositores se reunia nos mais diversos bares espalhados pela cidade, para tomar cerveja, trocar idéias e mostrar novas composições, não era dificil chegar no dia do festival com os habitués já conhecendo grande parte das músicas inscritas, que eram cantadas, anteriormente, pelos compositores ansiosos em saber e sentir a reação daquela pequena parte da platéia que estaria presente no dia do festival no teatro Record.
Na noite de 27 de setembro de 1966, o espetáculo começou às 22:10h e terminou depois de meia noite, em um palco decorado com flores e para uma platéia que não lotava o auditório, muitas vezes mostrando-se fria é apática a algumas apresentações. Esta também podia votar numa das quatro músicas classificadas naquela primeira eliminatória, que foram representadas no final por "Disparada"; "Um dia"; "La Vem o Bloco"; "Canção De Não Cantar". Ao terminar as reapresentações das músicas classificadas, todos os cantores voltaram ao palco, com exceção de Roberto Carolos que ficou muito decepcionado por não classificar a romântica "Anoiteceu", de Francis Hime e Vinicius de Moraes. A música mais aplaudida da noite foi "Disparada", de Geraldo Vandré e interpretada por Jair Rodrigues, que, sem dúvidas, passara nessa primeira eliminatória. Ninguém imaginava que uma queixada de burro pudesse ser aproveitada como instrumento de percussão com resultado tão poderoso, como se nele estivessem embutidos um amplificador e uma câmara de eco. "Disparada" provocou uma vibração generalizada, claramente superior a qualquer outra concorrente daquela noite.
Na noite seguinte, ocorreu a segunda eliminatória. Grande expectativa rondava as músicas que iriam ser defendidas pelas cantoras Maysa e Elis Regina, mas a maior ansiedade era para ver a apresentação de Nara Leão com A Banda, de Chico Buarque. Nara foi a primeira a se apresentar e cantou a frente de uma bandinha de coreto de interior com tumba e bumbo, num arranjo de Geny Marcondes. Mal ouvida devido a sua voz ter sido encoberta pelo som da banda atrás, não conseguiu impressionar e alcançar as expectativas do público, tal como foi quando "Disparada" foi cantada. Ao fim da segunda noite e eliminatória, classificaram-se "Flor Maior"; "Canção para Maria"; "Ensaio Geral" e "A Banda", apesar dos problemas que prejudicaram o entendimento da letra. Quanto aos demais cantores, nem a tão esperada Maysa com a tristonha Renascença, nem Orlando Silva suspirando em "Amor de Mentira", nem Cláudia que acabou chorando depois de "O Sonhador", muito menos Maria Odete, cuja má dicção a prejudicou interpretando "Levante", foram aprovados pelo juri.
Na noite do dia 1º de outubro, contrariando a programação normal da Tv Record, aconteceu a apresentação do terceiro lote de 12 canções já programadas, e mais "Adarrum", de Roberto Nascimento, que deveria ter sido apresentada na segunda noite de festival, mas devido a problemas nas cordas vocais da interprete Doroty foi transferida para a 3ª noite de festival. Assim, fechavam as 36 músicas concorrentes ao podiúm do festival. Antes mesmo desa última eliminatória, "Disparada" e "A Banda" já se destacavam como, claramente, as favoritas a vencedoras do festival, o que se concretizou após a apresentação das últimas 13 concorrentes, que foram consideradas as mais fracas das três noites. Ainda assim, mais quatro músicas foram classificadas, são elas: "De Amor ou Paz"; "Amor, Paz"; "Jogo de Roda"; "O Homem".
No momento em que os classificados nessa 3ª eliminatória do festival reapresentaram-se para o público, houve vaias do público, deixando bem claro o que, tanto eles quanto o juri estavam convencidos, que as melhores canções estavam entre as escolhidas das noites anteriores.
Na apresentação de "A Banda" nessa última noite de festival, houve uma novidade. Temendo novamente um problema no som, como ocorreu na primeira apresentação da música por Nara Leão na segunda eliminatória, o produtor Manoel Carlos sugeriu que Chico Buarque entrasse no palco com seu violão e cantasse sua música inteira, antes de Nara repeti-la com a bandinha de coreto atrás, de maneira que pouco importaria se continuasse sendo mal ouvida, pois Chico já teria dado o recado. Mesmo que a contragosto, Chico subiu no palco e deu, literalmente, um show. Agradou muito a todos ampliando bastante a torcida por "A Banda". Os que queriam ouvir o bis de outra favorita é que ficaram decepcionados, gritando e vaiando Blota Jr quando anunciou que Jair Rodrigues estava em Curitiba e portanto não cantaria "Disparada".
De qualquer forma, ficou bem claro para o juri (e para o público), que apenas duas músicas disputariam a Viola de Ouro, a marchinha "A Banda", que revivia a pureza de espirito das cidades de interior nos anos 30, e a moderna moda de viola "Disparada", que pintava com cores nunca antes percebidas a vida de um peão de boiadeiro que era rei. Eram duas músicas com letras longas, o que contrariava a idéia de que grandes sucessos eram compostos por letras curtas, fáceis e repetitivas.
Nos dez dias seguintes, a cidade de São Paulo passou a viver em função do grande duelo marcado para a final do II Festival da Musica Brasileira, da Tv Record. Nas rodas de amigos, reuniões, encontros, qualquer assunto desembocava na discussão das preferências entre as duas músicas. Como o festival foi transmitido pela televisão diretamente para quase todo país, o tema ganhou dimensão nacional. Nenhum tema artístico-cultural ganhou tão rapidamente as ruas, sendo discutido por qualquer pessoa independente de classe social, escolarização, idade, gênero, cor, etc. Freqüentadores de bares, empregadas domésticas, patroas, alunos e professores, todos só falavam de um assunto e cada um tinha seu palpite e argumentos na ponta da língua, apenas esperando uma simples brecha para discussão. Raro o Brasil viver uma discussão cultural com tamanha proporção e empolgação como aquela. "A Banda" VS "Disparada", era como decisão de campeonato com Vasco VS Flamengo. Inumeros cronistas escreveram sobre tal assunto nos jornais. Não se falava de outra coisa. Franco Paulinho foi intenso ao avaliar que o Festival tinha reconduzido a canção brasileira "ao único lugar deonde pode sair e para onde deve ir: o povo, a rua". Foi então, que o Brasil inteiro viu, pela primeira vez, que a música popular era uma coisa muito importante e séria.
Na tarde final, houve de um lado, no teatro Record um ensaio dos finalistas que durou aproximadamente 4 horas e permitiu aos cantores repassarem as músicas, descontrairem o nervosismo, conversarem, etc, enquanto do outro lado, acontecia uma reunião entre os 12 membros do juri, na qual se discutiu abertamente sobre as músicas que tinham mais chances de vencer. Não precisa nem dizer que foi uma árdua missão de escolher a única música que merecesse ganhor o troféu naquela noite. As opiniões com relação ao vencedor dividiam até mesmo os funcionários do teatro Record. A imprensa estava dividida, a opinião pública estava dividida, os participantes estavam divididos. A disputa era tão equilibrada que na mídia começou a circular um boato de possibilidade de empate, um tanto quanto precipitado, visto que haviam 12 músicas finalistas, mas os buchichos pela cidade, a empolgação da platéia nas torcidas nos dias de apresentação nos festivais, não deixavam dúvidas, "A Banda" e "Disparada" eram de longe as duas preferidas.
Quem tinha seu ingresso para a grande final daquela noite era um privilegiado. Iria poder torcer ao vivo para o seu participante preferido, além de estar lá presente assistindo aos shows.
Platéia lotada, cartazes de torcida com incentivos aos músicos lotavam o teatro e eram levantados a cada vez que os cantores entravam no palco. A ordem de apresentação era decidida por sorteio realizado a cada música por uma pessoa da platéia. Logo a primeira sorteada foi uma das favortias, "Disparada". Jair interpretou com a mesma seriedade das vezes anteriores, acompanhado pelo Trio Marayá. Eles saíram do palco com a platéia eufórica e entusiasmadíssima com gritos de "Já ganhou!". A segunda música sorteada e apresentada naquelanoite foi "Canção de Não Cantar" interpretada pelo grupo MPB4, vindo a seguir Elza Soares cantando "De Amor ou Paz", e Jair, que ao sair do palco teve que ouvir uma torcida ansiosa para ouvir a outra favorita "A Banda", novamente com "Canção para Maria". Leny Eversong cantou "La Vem o Bloco", mas a platéia insistia em querer ouvir "A Banda", que foi a próxima sorteada. Chico começou a cantar acompanhado do coro de todo o público que sabia a letra inteira de cor. No auditório pulava-se como se tivesse feito um gol.
Após todas as apresentações, foi enunciado que devido às dúvidas algumas músicas seriam reapresentadas, aumentando assim a inquietação e ansiosidade do público que insistia no favoritismo de "A Banda" e "Disparada". Mas era necessário um pouco mais de tempo para que os jurados reunidos em uma saleta decidi-se a grande vencedora. Houve uma primeira classificação; alguns jurados sentiam que Disparada eramelhor, mas votavam na A Banda. O que notava-se era uma grande indecisão do juri. Após a contagem de votos, A Banda tinha 7 votos contra 5 votos de Disparada, e assim seria o resultado final. Chico Buarque desconfiado de que ganharia sozinho, foi parabenizado pelos corredores, antes da anunciação final "VOCÊ GANHOU!", e mais que prontamente disse que se negava a receber aquele prêmio sozinho, alegando que devolveria o prêmio em público caso o anunciassem com o único vencedor. Foi então, nesse momento que os jurados decidiram por anunciar um empate e dividir o prêmio entre os dois vencedores, Chico Buarque e Geraldro Vandré.
O II Festival da Música Popular Brasileira de 1966 é considerado o melhor já realizado no país e o de maior repercussão. De fato foi o festival que deu mais notoriedade aos músicos com o advento da televisão, que ajudou, ainda, na grande difusão de tal espetáculo por todo o Brasil. Foi importante também pelo fato de abordar, ainda que indiretamente, a insatisafação do povo e do próprio músico, com a política vigente no momento. Em clima de ditadura militar, os músicos criavam letras metafóricas para expressar suas insatisfações e indignações. Foi também, o festival que consolidou uma chamada Música Popular Brasileira (MPB) e a tornou famosa entre todas as pessoas, independente de região e classe social. Com o reconhecimento da MPB, toda uma conjuntura cultural foi transformada, concretizando assim uma identidade para a música feita no Brasil, ainda que não fosse só aquele tipo, mas por ser o mais engajado, importante e o que tinha mais voz naquele momento.


Festivais Pós Década de 60

Os festivais tiveram importante representatividade na música brasileira, de maneira que na década de 60, período dos grandes festivais, concretizou-se um momento de surgimento de grandes expoentes da música popular brasileira. Estes espetáculos foram marcados pela grande euforia de seu público, que organizavam verdadeiras torcidas para seu cantor preferido, assim como já foi citado anteriormente.
Em 1975 foi realizado o Festival da Nova Música Brasileira que teve entre as 12 finalistas a canção "Fato consumado", que foi composta e interpretada pelo até então novato Djavan. Já em 1979 a, hoje extinta, TV Tupi realizou o Festival 79 de Música Popular, que projetou artistas hoje renomados como Oswaldo Montenegro, que teve sua canção "Bandolins" classificada em terceiro lugar. Ainda em 1979, o programa Flávio Cavalcanti promoveu o 1º Festival dos Estudantes.
No ano de 1980 a Rede Globo de televisão promoveu o MPB-80, em uma tentativa de ressuscitar aquele momento de grande descoberta de ícones da MPB. Neste festival a canção que ficou em primeiro lugar foi "Agonia" (Mongol). Outro destaque foi para Eduardo Dusek que ganhou projeção nacional ao interpretar sua obra "Nostradamus".
A Globo em 1981 deu a primeira colocação à canção "Purpurina", do compositor Jerônimo Jardim. Interpretada por Lucinha Lins, provocou vaias da platéia que tinha como favorita "Planeta Água" de Guilherme Arantes. No MPB-82, ainda promovido pela Rede Globo, a música vencedora foi "Pelo Amor de Deus" de Emilio Santiago.
Em 1985 foi realizado também pela Rede Globo, o Festival dos Festivais, que revelou talentos como a cantora Leila Pinheiro que interpretou a música "Verde", de Eduardo Gudin e Costa Netto. Leila Pinheiro recebeu a terceira colocação, sendo o primeiro lugar destinado à "Escrito nas Estrelas", interpretada por Tetê Espíndola, de autoria de Arnaldo Black e Carlos Rennó.
A década de 90 foi marcada pelos festivais de âmbito particular, como "Festvalda" , "Prêmio Visa", entre outros.
No entando, os festivais realizados nas décadas de 80 e 90, não tiveram a mesma repercussão e propósito dos festivais da década de 60 e início de 70. Com o desenvolvimento de novos artifícios para difusão das músicas e reconhecimento dos artistas, com o fim da ditadura e conseqüêntemente o fim das canções, propostas, engajadas, com a já consolidação da MPB no território brasileiro, os festivais posteriores não tiveram aquele mesmo propósito dos primeiros. Não tinham aquele sentimento de lutar por um país melhor, não tinham mais que contar com torcidas para conseguir um contrato com gravadoras, visto que elas não mais usavam desse artifício para escolha de músicos, até pela infra-estrutura e modernização de aparelhos e o advento da tecnologia, os festivais não eram os mesmos. Enfim, foram festivais com propostas diferentes.



Festival de 2000

Este festival foi um evento também promovido pela Rede Globo, entre os dias 19 de agosto e 16 de setembro de 2000. As apresentações, eliminatórias e a grande final ocorreram no Credicard Hall em São Paulo.
É importante mecionar que cada eliminatória contou com 12 concorrentes, sendo que apenas 3 concorrentes se classificariam para a grande final, que ocorreria no dia 16 de setembro de 2000, onde seriam premiados o melhor intérprete e a melhor canção.
O primeiro programa foi marcado pela falha no microfone do compositor Fernando Chuí, o fato da música "Pra se juntar a nós", de Nilson Pinheiro e Carlinhos Cavaco não ser inédita, violando uma das regras para se concorrer no festival. Tal música esta no cd Carlinhos Cavaco de 1997, no entanto, por ser uma canção que não era uma finalista, não foi desclassificada.
A audiência que teve 18 pontos na primeira noite e 15 na segunda, caiu com as noites seguintes, com o declínio da qualidade das músicas. A lista de jurados compunha-se do presidente da gravadora Som Livre, João Araújo, a produtora musical Patrícia Palumbo e o jornalista do Estado de São Paulo Mauro Dias.
Os finalistas eram escolhidos por um júri popular, que votava através de telefonemas. Este júri elegeu a canção "Brincos", de Amauri Falabella, que foi interpretada por Lula Barboza, como a melhor música.
Já o prêmio de melhor intérprete foi para Ná Ozzetti, que cantou "Show" de Luiz Tatit e Fábio Tagliaferri. A segunda colocação foi para o rock "Morte no escadão" de José Carlos Guerreiro que foi interpretada pela banda mineira Tianastácia.
A primeira colocação foi para o pop rock "Tudo bem, meu bem", composta e interpretada por Ricardo Soares, que recebeu o prêmio sob vaia e protesto do público, já que tinham a canção "Brincos" como a preferida.
Este festival teve como participações especiais durante as eliminatórias e a grande final, artistas como Caetano Veloso, Elba Ramalho, Barão Vermelho, Lenine, Ney Matogrosso e Gabriel, O Pensador.
Mas sem dúvida alguma, estes festivais que ocorreram a partir dos anos 80 não possuem a menor comparação com os grandes festivais da década de 60 e início de 70.
Segundo a Rede Globo, o Festival de 2000 tinha a intensão de recuperar a MPB de qualidade, mas é importante ressaltar as grandes divergências de propostas, opiniões e finalidades, que ocorreram entre os festivais de 60 e o de 2000.
No festival de 2000, a euforia do público estava ausente, sendo isso algo sempre notório nos festivais anteriores, onde se aglomeravam nos auditórios verdadeiras torcidas para um determinado intérprete e mpusica. Já no Festival de 2000 o público estava consideravelmente tímido, a manifestação de tal se restringiu a tímidos aplausos e/ou empolgação pré-estabelecida por amigos e parentes dos músicos concorrentes.
A transmissão do Festival também não teve grande destaque, sendo considerada por alguns críticos musicais como uma apresentação fria e com falta de espontaneidade.
A apresentação foi feita por Serginho Groissman que introduzia os candidatos com um claro texto decorado. As repórteres Maria Paula e Renata Ceribelli se esforçaram para criar uma euforia irreal, uma empolgação que não convencia a ninguém, nem provinha de alguém. Este Festival foi marcado pelo zelo excessivo a detalhes dispensáveis, como se fosse para compensar a falta de talento de alguns intérpretes e compositores. Como, por exemplo, a troca de cenário era presente a cada nova música. O Festival da Rede Globo conseguiu eliminar o que havia de melhor nos Festivais da Tv Record dos anos 60, a relação espontânea entre público e artistas.
Apesar destes contratempos é importante lembrar que boas músicas concorreram. Três canções foram selecionadas pelo júri para a fase final, são elas: "Tubaína" de Fernando Chuí, "Xi, de Pirituba a Santo André", de Rafael Altério e Kleber Albuquerque e "Estrela da Manhã" de Beto Furquim, que foi interpretada por Mônica Salmaso.
De fato, ao compararmos os Festivais das diferentes décadas, é importante salientar que a música de hoje não tem nada a ver com o que foi produzido na década de 60, pelo fato da indústria ter sofrido muitas mudanças que se refletem no tipo de produto massificado que hoje é imposto ao consumidor. A importância dos Festivais que estavam sempre apostando em novos valores pode ser sentida se comparadas ao que é veiculado na mídia como música. Naquele período, o que mais se sentia falta era de uma disponibilidade nos meios de comunicação, tais como o rádio e a televisão, para a veiculação da nova produção cultural, muito diferente do que foi no ano 2000 e o que é hoje.
Desde 2000 a rede Globo não criou novos Festivais, no entanto investiu no ramo dos realitys shows com tema musical, como o programa FAMA, no qual 12 candidatos ficam enclausurados em uma casa, chamada de "Academia", onde têm aula de canto, sendo a cada semana um dos concorrentes eliminado. A ordem dos eliminados é determinado por um júri popular que concretiza suas decisões através de telefonemas. Deste modo, novos cantores que não tem notoriedade dentro do ramo, são conhecidos, mas rapidamente descartados, pois não são cantores que propõe alguma discussão, ou inovam um conceito de música. Hoje, é tudo mais ou menos esteriotipado, visando a venda no mercado.


A mídia e a formação de novos talentos

Os programas musicais modernos trazem diferentes propostas do que anteriromente se fazia. O programa FAMA, por exemplo, não revela novos compositores e sim novos cantores que interpretam canções já consagradas. Este programa possue uma edição anual, na qual a cada final o vencedor ganha um contrato com uma gravadora, o que acarreta no lançamento de um CD, mas que nem sempre emplaca na lista dos mais vendidos, nem engata em uma carreira duradoura. Na verdade, depois de 4 edições do programa, fica difícil o público se lembrar dos finalistas anteriores, nem mesmo dos vencedores que raramente conseguem ultrapassar os muros da Rede Globo. É importante mostrar que o programa FAMA foi formulado de acordo com os moldes de programas Norte-Americanos, da mesma forma que o programa American Idol influenciou a crianção do programa Ídolos no SBT. Tanto o programa FAMA, quanto Ídolos seguem um determinado molde, ou seja, contam com um corpo de jurados que possuem pessoas extremamente simpáticas que ficam sensibilizadas com as interpretações e também com jurados extremamente duros, que não deixam passar nada, por menor que seja o erro ou falha, eles estão sempre dispostos a eliminar um dos concorrentes, aparentemente sem se importar se este candidato é ou não o preferido do público, o que faz com que muitas vezes este júri sofra com a antipatia do público.
Outra característica destes programas é o excesso de simpatia dos apresentadores, que intercalam suas frases decoradas, com comentários de suas roupas e estilos, brincam com os candidatos como se destes fossem íntimos. São programas esteriotipados, se fossemos analisar cada um, veriamos muitas semelhanças.
Nos anos 60 os grandes ícones da música eram conhecidos através do Festivais ou até mesmo das rádios, hoje no entanto com o fim de tais Festivais, o que resta, em sua maioria, é a manipulação de alguns meios midiáticos para impor à um público, determinado tipo de música o que implica também na imposição de comportamento.
Com o advento da internet, muitos concursos, mostras e premiações passaram a ser realizados Online, como o Festival Nova Música, promovido pelo site: www.novamusica.com.br . Hoje a representatividade do Rádio já não é mais tão importante como foi no passado, além de que possuímos estações diversas para determinados estilos musicais, sendo que desta forma certas estações acabam sendo rotuladas como boas ou ruins de acordo com o gosto pessoal, ou mesmo podem ser consideradas como as responsáveis pelos lançamentos de novas músicas, bandas ou modismos.
Muitas vezes quando uma estação toca uma música, está legitimando o sucesso de tal canção ou de tal intérprete. Ou seja, Jorge Vercílo é um representante da MPB a partir do momento que suas músicas tocam em uma estação que é designada a tocar somente este estilo musical. Da mesma forma que uma banda de rock como Detonautas ou CPM-22, são representantes do rock perante os olhos dos jovens a partir do momento em que suas músicas tocam em um programa reservado para o rock nacional.
O mesmo é feito com a televisão, neste caso sendo representada pela MTV (Music Television), que a partir de sua programação com videoclipes determina quais são as músicas ou as bandas da semana, e com sua programação rotula novas bandas o que implica à indentificação de um determinado grupo de jovens com tal grupo musical. Como, por exemplo, as novas bandas de pop-rock tipo Fresno, Hateen, e outras que podem ser rotuladas como pop, rock, emo, a partir de uma simples insinuação de um apresentador durante um programa da MTV.



Cleber Alves
Paula Nóbrega
alunos de música popular e 'comunicação de massa' 2006/2


Bibliografia
A Era dos Festivais - Zuza Homem de Mello
Marcus Vinicius Jacobson - MVHP Portal de Cifras
Ramiro Zwetsch - Instituto Cultural Cravo Albin